Thursday, October 27, 2005

Resenhas frescas como o lixo que está há três semanas se juntando na área de serviço do meu apartamento-protorrepúlbica.

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Old Boy.
"Até quando o Tarantino vai ficar soltando cheques para patrocinar o seu cinema favorito?" foi o que eu pensei quando eu ouvi de terceira mão que supostamente o cabeçudo estaria patrocinando a vinda deste filme para o mercado ocidental. Depois do comercial de Vinólia de duas horas chamado "Herói" eu fico com dúvidas em pensar qual cinema é pior no mundo: o chinês ou o brasileiro. O chinês com sua eterna mentalidade de "Tudo o que sabemos fazer é filme de kung-fu" ou o brasileiro que não tem o dinheiro nem o prestígio do cinema chinês e ainda tem a mentalidade "PORNOCHANCHADA, PORNOCHANCHADA... CIDADE DE DEUS, CIDADE DE DEUS....". Beeela merda. Quando não é isso é o filme dos caipiras filhos da puta (no mau sentido) e coisas como "Pequeno Dicionário Amoroso" ou "Mater Dei". Cinema para a classe média do Meier e demais cantos do meu brasil varonil. Mainardi, aquele abraço, meu quirido.

Mas vamos ao filme. Primeiro roteiro. "Oh Dae-su" é um cara normal, pé-no-saco como todo cara normal. E ainda vive na Coréia. Estava ele retido numa delega por causa de uns pileques quando resolveu ligar para casa de um orelhão. E nisso ele foi sequestrado. Mas não é só isso. Ele ganha inteiramente grátis a culpa pelo assassinato da mulher, a perda da guarda da filha, e um cativeiro num apê sem-vergonha por quinze anos sem uma ou outra palavra. Entre tentativas de suicídio, punhetas para a BoA, e ver o mundo pela tela morna de uma tevê, ele acorda fora dali e começa a procurar a sua vingança contra o desgraçado que fez isso tudo com ele e principalmente "POR QUÊ DIABOS VOCÊ ME PRENDEU AQUI POR QUINZE ANOS SEU PORRA?"

A fotografia tem horas que decepciona, a não ser que ambientes estupidamente escuros em que não se vê porra nenhuma sejam uma idéia do Chanwook Park, o pai de todo esse samba do crioulo doido. A trilha sonora, carregada no clássico, meio que quis dar um operístico a toda a coisa, como se fosse uma reencarnação de Tosca ou Édipo Rei no século XX asiático. Criativo, mas não conseguiu evitar a forçação de barra em certas partes. Segundo o autor da obra, em entrevista para a Ilustrada na Folha de muito tempo atrás, ele gosta de "tratar a vingança como um bom mote" para filmes. Só que na minha visão de um olho só, enxerguei vingança, tabus, sadismo, e uma ponta que deixaria o próprio Nelson Rodrigues orgulhoso do cineasta amarelo.

Sem falar na melhor cena de tortura do cinema moderno, excluindo o "Marido diz que está cansado da vagabundice da mulher" no JK, repetido em looping por 950 horas.

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Copio aqui com direitos a RONALDO BRESSANE do site http://www.fakerfakir.biz a melhor resenha possível para o indicado ao Oscar pela Rede Globo, "Dois Filhos de Francisco".

Não vi e não gostei

Não vi 2 filhos de Francisco. Não gostei do filme. Detesto a música praticada por Zezé Di Camargo & Luciano e todos os seus clones. Detesto a figura dos dois, de sua família, de sua prole. Detesto proles numerosas que têm nomes imbecis como Mirosmar ou Welson. Detesto gente que luta por sonhos tão estúpidos como fazer com que os filhos sejam cantores de sucesso. Não acredito que o tal do Brasil Profundo esteja representado por músicos medíocres de Goiás. Não acredito que a música brasileira tenha ganho qualquer tipo de originalidade, potência ou criatividade através das imitações canhestras do pior country americano mixado à mais rasteira guarânia paraguaia. Jamais poderei acreditar que cantar o tempo todo de modo esganiçado seja bonito.
Abomino profundamente esse consórcio da situação, que alia cinema carioca publicitário conspirativo tonificado com o oportunismo onipresente de Caetano Veloso & baianos associados à música sertaneja criada com grana gorda paulista glorificada em showmícios subfaturados do nosso principal partido "de esquerda", que deu nesse atual cortejo da ignorância liderado pelos primatas Lula e Severino - adulados pela freyriana culpa da classe-média educada pela Veja a ser boazinha com os "desfavorecidos". Hoje, 7 de setembro, seria interessante pedir independência a esse estranho amor pela burrice "tão Brasil" que supostamente nos definiria. Esse Brasilzinho pobre aí eu dispenso.

Não acredito que o Brasil precise de um "blockbuster popular bem-feito" para catapultar seu cinema, como muitos jornalistas complacentes têm publicado, para meu constrangimento. Não acredito na tese de que a música sertaneja explique a passagem do Brasil agrário para o Brasil urbano - ou talvez fosse melhor, do Brasil ágrafo para o Brasil agroboy. Não acredito que música sertaneja explique algo além de ser simplesmente música para que não tem respeito pelos próprios ouvidos.
Desculpem-me, mas, ao contrário dos pais da dupla referida, os meus não são surdos, analfabetos nem cretinos. Ambos de origem pobre, nunca o foram em matéria de cultura. Meu pai, um caipira paulista, ouvia música caipira em casa, divertida, radical, tosca, derramadamente simples, com a classe de quem sabe que aquilo é bom porque não é uma impostura copiada e modernizada, limpa, dedetizada no maldito Estado natal de Bush. Veio do mato, foi boiadeiro, pegava touro à unha, mas nunca quis saber de rodeio, que é esporte pra maricas. Ele também ouvia rock'n'roll, jazz, música clássica, canto gregoriano, música romântica brega, samba, o que viesse. Não tinha delírios de grandeza para os filhos - queria apenas que eles estudassem e trabalhassem. Era um homem que tinha um cérebro entre as orelhas, e as suas, ele as limpava.
Por todas essas razões, não verei e torcerei com todas as minhas forças para o fracasso desse filme que, não bastasse lidar com as emoções mais rasas e com os conceitos mais babacas, é estrelado por um ator insportavelmente mala chamado Ângelo Antônio.
Para quem não entendeu: são os preconceitos que moldam a integridade de um homem e sua visão de mundo. Não é necessário comer merda para deduzir-lhe o sabor. Ou o som.
Faker 01:21 PM 02. Ronaldo Bressane

Cada dia mais eu sou fã desse filho dum jumento (no bom sentido), desde "JORNAL DO CAOS". Quando sé foda, é.

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