Friday, October 07, 2005

Faça valer sua carteirinha do PC.

- Reed?
- Que foi?
- O chefe mandou um telegrama. Quer que você vá pra Russia.
- Onde?
- Russia, fio. Frio, pessoas com chapeu esquisito, ursos polares, imigrantes na America, Russia.
- Tá de sacanagem comigo, Phil. Eu já tou aqui nesse cu de mundo de Iugoslávia da porra só pra cobrir essa guerra dos europeus e ele ainda quer que eu vá pra Russia? O que eu vou fazer nesse fim de mundo?
- Algo a ver com os vermelhos.
- Quê?
- Pois é. Tá correndo a boca-pequena que os russos vão sair de vez da guerra porque a chapa tá quente lá em Petrogrado. Tá caindo a casa geral, ninguém sabe direito se vai ser os comunistas, os cossacos, os nacionalistas, quem vai se dar bem nessa.
- Só espero que o jumento do meu patrão pelo menos pague a minha viagem.

John Reed estava na cobertura da Primeira Guerra Mundial na Europa quando soube das agitações na Russia por conta da Revolução Bolchevique e teceu um detalhado relato sobre os acontecimentos na capital do Império do Leste. Surgiu um dos primeiros grandes relatos jornalísticos em forma de romance, "Dez Dias Que Abalaram o Mundo".

Este livro foi tão fodidamente bem-escrito que os ossos de Reed estão repousando na murada do Kremlin, por ordem do Comitê do PC Soviético "pelos serviços prestados em nome da Revolução divulgando seus verdadeiros ideais". A fluência do negócio é quase uma dimensão à parte de "Os Sertões", o genérico brasileiro. E, pelo que sei, John Reed não teve a cabeça enfeitada por estar escrevendo sobre os comunistas, ao contrário de nossa infeliz contraparte brasileira enquanto esteve comendo poeira e putas tristes no sertão baiano.

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